terça-feira, 4 de março de 2014

TEATRO MODERNO E COMTEMPORÂNEO

 A FUNÇÃO SOCIAL DA ARTE
Luis Alberto Afonso  
                                                                           
A arte não parte de uma definição abstrata, lógica ou teórica do seu próprio conceito, mas se vale de atribuições feitas por instrumentos de nossa cultura, dando certa dignidade aos objetos sobre os cai ela recai. Assim uma peça que pôde ser classificada como arte  séculos atrás  pode agora não sê-lo. Como aquelas que também mantêm seu valor artístico e ainda não sabemos descobrir o que delas nos apanha ou nos envolve.

O fato de possuir a arte um mundo com novos significados para o homem, significados afastados do real, faz com que o homem na procura de um mundo mais justo e mais compreensível fique perto dela. O homem quer ser mais do que apenas ele mesmo. Quer ser um homem total, ansiando uma “plenitude” de vida que lhe é burlada pela individualidade e todas as suas limitações. O homem anseia por absorver o mundo que o circunda, quer integrá-lo a si, quer unir na arte o seu “ EU” limitado, com uma existência humana coletiva e por tornar  social a sua individualidade.

A arte é meio indispensável para a união do indivíduo como um todo, reflete a infinita capacidade humana para a associação, para a circulação de experiências e idéias. O próprio Ernest Fischer faz questão de se perguntar se essa definição de arte não é um pouco romântica. Aqui poderíamos nos deter numa análise transversal do fato na construção da obra artística e o prazer que dita obra já concluída produz. O homem quando produz uma obra de arte, o faz de uma forma altamente consciente e racional e não de modo algum atravessando um estado embriagante ou afastado da realidade. Para conseguir ser um artista, é necessário, dominar, controlar e transformar, a experiência em memória, a memória em expressão, a matéria em forma.

Por esta razão o processo seguinte da apreciação da arte não pode ser o de completa abstração do ser humano, mantendo esse elemento “dionisíaco” de elevação e afastamento da realidade.

 Ela não pode ser também divertimento e satisfação com o qual o espectador não se  identifica e até se distancia do que está sendo apresentado?                                                                                        
As contradições dialéticas são inerentes à arte, pois ela não só precisa derivar de uma intensa experiência da realidade, como também precisa ser construída, precisa tomar forma através da subjetividade.
Durante a apreciação de uma obra de arte, os laços da vida são temporariamente desfeitos, pois a arte cativa diferente da realidade, e este  agradável e passageiro cativar artístico, constitui precisamente a natureza do divertimento, a natureza  daquele prazer que encontramos até nos trabalhos trágicos.

Se analisarmos Bertolt Brecht, no seu teatro militante, veremos nele a sua dialética, intrínseca na arte do fazer teatral, pois o homem deve ir ao teatro não só para se divertir ou para se elevar, mas para refletir frente aquilo que está assistindo. Deve, por um processo orgânico,nascer nele uma Natureza Crítica, capaz de se confrontar com o que está vendo e se perguntar como essa situação pode ser mudada e chegar a desenvolver um senso de opinião e de luta.

Carl Marx, nos seus análises, enxergou que na arte, historicamente condicionada por um estágio social  não desenvolvido, perdurava um momento de humanidade, e nisso Marx reconheceu o poder da arte de se sobrepor ao momento histórico e exercer um fascínio permanente. A razão de ser da arte nunca permanece inteiramente a mesma.

A função da arte, numa sociedade em que a luta de classes se aguça, difere ,em muitos aspectos, da função original da arte. No entanto, a despeito das situações sociais diferentes, há uma coisa na arte que expressa uma verdade permanente. E é essa coisa, que nos possibilita ficar comovidos com as pinturas pré-históricas das cavernas e com antigas e velhas canções.

É verdade que a função essencial da arte para uma classe destinada a transformar o mundo não é a de fazer mágica, e sim a de esclarecer e incitar  à ação, mas é igualmente verdade que um resíduo mágico na arte não pode ser inteiramente eliminado, já que sem este resíduo, que surge da natureza original a arte, deixa de ser arte. A arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo. Mas a arte também é necessária em virtude da magia que lhe é inerente.


                                                                                                  
A FUNÇÃO SOCIAL DO TEATRO 
Felipe Menezes

Antes de se falar sobre a função social do teatro é preciso primeiramente apontar, identificar os problemas sociais. A arte por si só tem sua função (responsabilidade) para com a sociedade, e cabe a própria arte apontar os vários caminhos para efetivar esse encontro.  

O teatro comercial tem a sua função para com o seu público com seu discurso tomado de ideologias implícitas e explicitas, para com seus consumidores de entretenimento. Em toda manifestação artística existe a chamada função social. É preciso estar atento, manter UM OLHAR CRÍTICO sobre sua realidade. Teatro é uma ação política – logo isso significa dizer que toda ação em teatro implica  numa reação (à) política.

Busca-se uma mudança social através da visão artística daqueles que fazem teatro. Essa mudança é processual, dependendo dos diversos fatores externos e internos.

Devemos nos perguntar: qual publico queremos atingir com nossas ações estética, éticas e políticas?

 É preciso estar indignado para se fazer teatro e estar amparado, conscientemente, da provocação que queremos lançar.

Foi dito que o teatro é o Oasis, porém, divergências nos impossibilitam de fecharmos respostas para perguntas como: o que seria de fato, esse Oasis? Ou onde está esse Oasis?

Pontuamos em nossa discussão que “ conteúdos libertadores tem o poder de transformar  os espectadores” em contraposição ao teatro digestivo ( é uma das inúmeras definições que Nelson Rodrigues usava para criticar um tipo de produção espetacular onde o carro chefe era o lucro e não o conteúdo do espetáculo) que tem em si um produto fechado, já acabado onde se atualizam as piadas.

Numa tentativa ingênua, porém arriscada, a função social do teatro é o desejo de provocar, causar pequenas REVOLUÇÕES  individuais.

“Teatro não é um lugar de recreio irresponsável. Não. É, antes, um pátio de expiação”. Nelson Rodrigues.

                                                                                                           
A FUNÇÃO SOCIAL DO TEATRO
Roberto Alvim

   Qual a função do teatro hoje? Qual o seu papel dentro da nossa comunidade? O que se espera dele, o que se espera ver quando se vai ao teatro?

Pensemos um pouco sobre isso (e pensar é difícil...) usando o exemplo concreto no próximo parágrafo como trampolim.

Está em cartaz até o final de julho no teatro Ziembinski (Rio) um espetáculo chamado BRASIL 2005 – 8 visões. Trata-se da reunião de 8 peças curta escritas por dramaturgos contemporâneos retratando suas visões da realidade brasileira. O texto abordou um aspecto do Brasil que lhe pareceu interessante ( violência, política, vida na classe media,  vida na classe alta, vida na classe baixa, policia, juventude, cada autor escreveu um textinho de 25 minutos a respeito.

O projeto é uma tentativa de levar questões mais urgentes para o nosso pais, para o nosso povo neste ano e discuti-las no palco. Foi inspirado em outro projeto semelhante realizado em 1970  A FEIRA BRASILEIRA DE OPINIÃO. Nessa, 10 autores, fizeram o mesmo, falando então do perigo da ditadura militar, clamando pela anistia dos presos políticos, pela abertura da redemocratização do Brasil etc.

Quais são as diferenças entre os dois projetos, isso pode nos ajudar a pensar  sobre a função social do teatro hoje?

Na época da ditadura, o Brasil não estava nos jornais. A mídia impressa e televisiva não podia dizer o que estava acontecendo, era censurada pelo governo militar.

Assim como o Teatro Oficina, o Teatro Opinião e o Teatro de Arena exerciam uma resistência feroz e corajosa expondo em cena o Brasil que a imprensa não podia divulgar. Teatro para se unir a essa atitude de resistência, para ver a verdade, para ver a nação brasileira – que estava apenas nos palcos, nos filmes, na MPB da época, mesmo disfarçada em metáforas de fácil compreensão para todos - que estavam irmanados na mesma luta e soterrados pela mesma repressão.                                                                                                                              
O povo brasileiro oprimido, o grito de liberdade, a indignação, isso as pessoas só encontravam no teatro e os estudantes, a classe média, os intelectuais, a inteligência brasileira da época toda  lá, vendo  o Brasil que não podia ser visto em outros lugares, discutindo as coisas que eram censuradas nos meios de comunicação de massa.
                          
Hoje vivemos uma situação exatamente inversa. A realidade brasileira está estampada todos os dias nos jornais. Nossos políticos, nossa corrupção, nossa vida, nossa miséria, tudo está exposto em fotos coloridas e manchetes garrafais. E todos nós, submetidos a uma over-exposição permanente de Brasil, através de revistas, da TV, rádio, jornal etc.

Pois bem, aí está talvez o que mais fortemente diferencia a função social do teatro brasileiro contemporâneo do quer feito na época da ditadura: nos anos 60/70 teatro para ver o Brasil não podia ser visto. Hoje, não há mais censura e a imprensa expõe continuamente a realidade e as questões do nosso pais, portanto, não se quer ir ao teatro para ver o Brasil! As pessoas estão saturadas de polícos Jeffersons, de escândalos, de CPIs, de violência urbana, de desigualdades.

Quando se vai ao teatro hoje, o que menos se quer é se deparar com denúncias, discussões acerca de iniqüidades. Prefere-se ver qualquer coisa: a relação mãe e filha na Suécia gelada de  Ingmar Bergman, as músicas e as danças dos famosos, musicais com  A bela e a Fera ...Qualquer coisa, contanto que não seja o Brasil contemporâneo, esse Brasil que vivemos e do qual estamos saturados.

 Portanto, caros amigos, se a função social do teatro no passado era engajar as pessoas nos problemas sociais brasileiros, hoje, graça asa nossas circunstâncias históricas, a função do teatro é proporcionar um escape, uma fuga (ainda que por uma hora de espetáculo) dos problemas sociais brasileiros. E agora, José?                                                                           


        

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